Comunicação digital está substituindo a TV?
No artigo produzido por nosso jornalista Thiago Silvério, ele propõe essa reflexão por meio de uma analogia com o filme By By Brasil, de Cacá Diegues, um marco no cinema brasileiro dos anos 1970 que criticava a chegada da TV. E agora vemos a chegada da comunicação digital por meio da internet levantando a uma nova discussão. Leia o artigo e deixe sua opinião nas redes da Press Comunicação.
Eu via um Brasil na TV
Televisão busca se adaptar para não perder público após o avanço da internet e da comunicação digital
A cena virou marco do cinema brasileiro. Lorde Cigano e a trupe da Caravana Rolidai, ao chegarem a uma praça de uma cidade do interior de Alagoas, enxergam o motivo para os seus espetáculos, antes sucesso de público, estarem tão vazios. Na noite em que o circo estrearia, toda a população, incluindo prefeito, padre e delegado, estavam parados, inertes, à frente de uma televisão.
No ano de 1979, quando o filme “Bye, Bye Brasil”, de Cacá Diegues, foi lançado, havia a discussão se a presença acachapante das novelas e programas de TV não estaria absorvendo quase por completo o interesse popular. Por conta da “caixa mágica” , boa parte das manifestações culturais do país, sobretudo as de rua, passaram a ser negligenciadas. Mais de 30 anos depois, o debate é parecido, mas com outros papéis atores. Quem sofreria com a queda de audiência, tal como um circo mambembe correndo as cidades, seria justamente a televisão. E o chamariz exposto na praça caberia à internet e à comunicação digital.
Comunicação digital em números
Os números comprovam a analogia. Enquanto nos últimos dez anos cresceram no Brasil as opções de informativos, páginas sociais e outras atrações desenvolvidas para a rede mundial de computadores, o desempenho dos quadros televisivos, mesmo os seus principais, como as novelas e os programas de auditório, caíram de forma acelerada. Segundo dados do Ibope, na década de 80, uma novela da Globo – Roque Santeiro, por exemplo – conseguia atingir 95% de todos os lares na mesma faixa horária. O índice médio das últimas atrações do tipo não chega a 30%.
A internet entrou definitivamente no gosto nacional. De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia, divulgada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, as pessoas passam 4 horas e 59 minutos navegando pela internet, que é o meio mais acessado. A TV está em segundo, com 4 horas e 31 minutos. A divisão da audiência, porém, é diferente. O Jornal Nacional, segundo o Ibope, têm menos público por dia do que os grandes portais da internet. Mas os seus, em média, quatro milhões de telespectadores estão concentrados em pouco mais de 40 minutos, que é o tempo de exibição do programa. Já as audiências dos portais, alguns ultrapassando os cinco milhões, ficam dispersas nas 24 horas do dia.
A TV, de qualquer forma, tenta manter sua relevância, e segurar o público, oferecendo atrações que atingiram grande repercussão on line. Os exemplos são muitos. O canal fechado Fox, no início do ano, fechou contrato com a produtora Porta dos Fundos para exibir parte de seus esquetes. Ao todo, são quase 400 vídeos, com média superior a 3,5 milhões de visualizações cada um. Na Globo e no SBT, programas tradicionais, entre eles o Fantástico, líder das noites de domingo, exibem e analisam virais da internet.
A individualidade e o exibicionismo das redes sociais também acabaram encontrando guarita na TV. Já virou rotina realities shows, até na grade do jornalismo, que mostram o dia a dia de pessoas comuns. Nesse mês, por exemplo, um jornal exibido em Minas Gerais iniciou uma série que acompanha as aventuras de suas repórteres gestantes. O título do quadro se utiliza de um jargão da rede: #partiugravidez.
No filme de Diegues, Lorde Cigano, sob pretexto de um truque ilusionista, explodiu o aparelho de TV da praça. Acabou sendo expulso da cidade. Hoje, a sua estratégia de vingança seria outra. Ele talvez postasse vídeos de apresentações de Ciço, Salomé e Andorinha no youtube. Aliás, não é preciso muita pesquisa para ver o espetáculo de sua caravana por lá.
Thiago Silvério
Jornalista da Press Comunicação