Comunicação corporativa: os perigos de querer opinar sobre tudo

Comunicação corporativa deve seguir uma série de estratégias para que, nesses dias de mensagens instantâneas e polêmicas diversas, a empresa não seja mal interpretada

Documentário Corações & Mentes, de Peter Davis: um canal de comunicação
Documentário Corações & Mentes, de Peter Davis: um canal de comunicação

A internet e toda a sua sorte de redes sociais possibilitaram às empresas um universo de oportunidades. Permitiu, por exemplo, chegar mais rápido a seus públicos alvos, conhecê-los quase na intimidade e acertar seus gostos. Em contrapartida, talvez como pagamento a essas informações privilegiadas, vem exigindo dessas empresas posicionamento constante para os mais diferentes assuntos, dos triviais aos polêmicos. Um campo minado em que, um passo em falso, coloca pelos ares as mais sólidas imagens.

As chamadas à travessia desse campo ocorrem a todo momento. Há convites, explícitos ou não, para opinar sobre corrupção no congresso, morte de cantor sertanejo, aborto legalizado, união homoafetiva, hidrelétrica em Belo Vale, má fase da seleção de futebol. A lista é inumerável, com atualizações quase diárias. O desafio para as empresas não é só percorrer por esses assuntos, mas também fazê-lo de forma convincente e cativante. Em outras palavras, sair ilesa das minas e ainda conquistar corações e mentes.

Essa última expressão, “corações e mentes”, título de um documentário de Peter Davis, surgiu justamente no meio de dias de conflito. Foi cunhada pelo ex-presidente americano Lyndon Johnson numa palestra de incentivo às tropas americanas que embarcavam para a Guerra do Vietnã. Johnson dizia que os Estados Unidos só conseguiriam vencer o embate se fossem capazes de convencer os vietnamitas de que não eram invasores, mas sim libertadores, numa estratégia em que a retórica valeria mais do que os fuzis.

A guerra foi cruel, como nos contam os livros de história. Resultado desastroso para toda uma geração. Mas Johnson, pelo menos naquele palanque, sabia o que dizia. De fato, uma boa comunicação consegue, sem pegar em armas, construir em torno das instituições uma blindagem própria e positiva. Com um planejamento eficiente, promove empresas a um referencial de conhecimento dos setores onde atuem. Faz com que o seu posicionamento seja respeitado e relevante.

Ao observar as grandes marcas é possível identificar algumas ações para esses objetivos. A primeira, evidentemente, é que a empresa não deve cair na armadilha de emitir parecer sobre tudo. Primeiro, é preciso identificar a imagem que se quer manter ou conquistar. Depois, saber a fundo o interesse de seu público. Por fim, limitar os assuntos que se enquadrem nesse interesse e que podem reforçar a sua imagem.

Outra estratégia seria amarrar todos os discursos em uma mesma corrente de pensamento, a identidade da empresa, forjada pelos valores, visão e missão. Essa corrente deve ser notada nas palavras dos porta-vozes, presente em todos os informativos e redes sociais. Para empresas muito grandes, com um corpo técnico e gerencial formados por centenas de potenciais formadores de opinião, alinhar um discurso único pode parecer impossível. Nada do que algum treinamento e a criação dos chamados “comitês de comunicação”, formado pelos próprios funcionários, não resolvam.

Quanto mais afinado for esse discurso mais a empresa será reconhecida e seu posicionamento valorizado. E a internet continuará sendo uma ferramenta útil, mas dessa vez com todas as minas mapeadas.

 

Por Thiago Silvério

Jornalista da Press Comunicação