Comunicação empresarial , reconfiguração da(s) identidade(s)

 

Comunicação empresarial e a identidade
Stuart Hall e a  reflexão sobre identidade cultural

 

A Comunicação empresarial ainda padece de mais aprofundamento nos seus estudos. Este  artigo tem o propósito de jogar luz em uma questão ainda pouco discutida , que é a (con)formação atual da identidade das organizações capitaneadas pela comunicação empresarial. Vem  falar na sua essência sobre o deslocamento da identidade empresarial dentro de um contexto de complexidades em que  vivemos atualmente.

É possível uma empresa ter mais de uma identidade?

Após ler , deixe suas considerações. É preciso ampliar as discussões, não acha?

Comunicação empresarial e a identidade em deslocamento

As organizações estão no epicentro das mudanças na sociedade em seus diversos campos, tanto configuram como são configuradas pelos contextos sociais. É preciso entender e caracterizar o contexto social onde estão inseridas e pelo qual foram (re)configuradas. Entendidas como sujeitos sociais coletivos, as organizações são consideradas um espaço de interação social, que influenciam e são influenciadas pelos sistemas culturais, sociais, políticos e econômicos; modificando a sociedade e sendo modificadas por ela.

Portanto, analisamos o contexto social contemporâneo pela perspectiva das mudanças que as organizações ajudaram a promover e que as (re) configurou nos diversos aspectos de sua natureza. O objetivo é de, compreender a influência deste contexto na dinâmica de interação comunicativa que elas estabelecem com a sociedade e seus interlocutores, e principalmente como se dá construção de identidade e a produção de sentidos gerados nesta interação.

Partimos do pressuposto que a construção legitimadora das organizações se dá pela comunicação, que emerge por meio da criação de estratégias discursivas, atualmente mais fluidas e plurais, frutos da própria complexidade contemporânea. Neste ambiente de centralidade da comunicação, as organizações, como sujeitos da enunciação, deixam de ser apenas emissores passando a sediar um espaço de trocas, que Merleau-Ponty[1], citado por Duarte (2003), chama de “encontro de fronteiras perceptivas”. Perceber o mundo direciona a consciência para o outro, criando assim uma fronteira, uma “zona de contato” onde acontecem as trocas de sentidos, onde se é ao mesmo tempo emissor e receptor. É neste processo de tomada de consciência de si mesmo enquanto sujeito social e da consciência da existência do outro que se institui a relação que pode definir as percepções que cada um tem do outro.

Porém, todo esse deslocamento cultural, do público para o privado, levou os sujeitos a uma crise identitária. As identidades culturais de classe, gênero, etnia, raça, nacionalidade que encaixavam os sujeitos socialmente, se fragmentaram nesse contexto, tornando essas fronteiras mais fluidas e indeterminadas (HALL, 1997).
Para Hall (1997), se no passado essas identidades localizavam os indivíduos sociais de maneira sólida, hoje essas mudanças, modificaram as identidades pessoais e a forma do sujeito, e aqui nos referimos as organizações como sujeitos coletivos, se localizar na sociedade. Na concepção de HALL (1997) vivemos o sujeito pós-moderno hoje.

Onde segundo o autor :

O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. […] A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia (HALL, 1997, p.13 -14).

Assim, esse sujeito – no caso as organizações – se torna fragmentado, composto por muitas identidades que tornam o seu núcleo móvel. Assim se caracteriza o sujeito “pós-moderno”, ou seja, contemporâneo, assumindo diversas identidades, em diferentes momentos, sem unificação e nem alinhamento a um só núcleo. A estrutura da identidade – ou das identidades – desse sujeito está sempre aberta, o que possibilita articulações em torno da formação de outras fisionomias. E como se configuram socialmente na relação com o outro esta identidade é ainda reinterpretada pelo outro, pelo seu público.

Porém, não quer dizer que ela , a organização, se perca diante de tantas influências, o que não se pode mais afirmar é que, enquanto sujeito coletivo , participante deste contexto social de mudanças atual , tenha uma única identidade.

 

Cláudia Tanure

Diretora da Press e Mestre em Comunicação

 

Bibliografia

DUARTE, Eduardo. Por uma epistemologia da Comunicação. In: LOPES, M. Immacolata Vassalo Org.). Epistemologia da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2003.

HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A ,1997.

HALL, Stuart (org.) Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Brasília: Editora UFMG, 2003.

[1] MERLEAU-PONTY,Maurice. Phénoménologie de La perception. Paris: Éditons Gallimard,1945, p.407.