A interferência da Comunicação na Governança Corporativa
A importância da comunicação em relação a Governança Corporativa na contemporaneidade é refletida nesse artigo no Hoje em Dia.
Para muitos estudiosos, vivemos na sociedade da informação, ou seria sociedade da comunicação? No século 20, os defensores desta teoria já preconizavam ser o conhecimento e a informação, a fonte de crescimento, o motor propulsor da sociedade do futuro. A tecnologia capitaneada pelo computador, em conjunto com o desenvolvimento das telecomunicações, foi decisiva para concretizar de vez esta perspectiva. Esse acesso às informações, pela combinação de diversos dispositivos como satélites, televisão, telefones celulares, computadores e internet, produziu o aumento da conexão entre sujeitos individuais ou coletivos como as organizações, quebrando barreiras como a distância e a língua, e diminuindo fronteiras geográficas, sociais e humanas.
O acesso veloz e abrangente às informações, a comunicação de massa, a tecnologia que gera o encurtamento do tempo e espaço são alterações que influenciaram o modo de o homem estar no mundo e, consequentemente, trouxeram novas implicações éticas e morais para a sociedade.
Assim, a abrangência desses fenômenos e seu poder de transformação geraram uma reestruturação dentro do contexto organizacional, por meio da mudança de comportamento das pessoas.
Mas, se por um lado as organizações dispõem de muito mais informações para alavancar os seus negócios, por outro esse fenômeno implicou mais cobrança da sociedade por transparência, por fornecer e compartilhar essas informações.
As próprias organizações, na década de 1990, procurando institucionalizar maneiras de prestar contas à sociedade inauguraram o sistema de “governança corporativa” e “accountability”, a fim de dar uma resposta ao clamor da sociedade por informação e ética na conduta dos seus negócios. Mas quais significados esses termos carregam? E como a sua chegada impactou a comunicação entre organizações e seus interlocutores? Tentando jogar luz a essa reflexão que propõe o artigo, explicamos que um sistema de governança corporativa[1] é um conjunto de regulamentos e convenções culturais que vão reger justamente a relação entre a empresa, os acionistas e os diversos atores sociais, que, de alguma maneira, estão conectados a ela.
Oito princípios sustentam a governança corporativa, sendo eles: estado de direito, transparência, responsabilidade, orientação por consenso, igualdade e inclusividade, efetividade e eficiência e prestação de conta (accountability). Fazendo parte desse sistema, a accountability fornece importante aparato para o controle das ações das organizações e sua divulgação para a sociedade. O termovem da língua inglesa e não tem tradução exata para o português, já que o seu sentido mais comum nos remete à obrigação de membros de uma organização pública ou privada prestar contas de suas ações a instâncias controladoras ou a seus representantes. Na ausência de tal tradução, outro termo usado numa possível versão portuguesa é responsabilização, que é frequentemente usado em circunstâncias que denotam responsabilidade social, imputabilidade, obrigações e prestação de contas.
No entanto, essa questão não é meramente linguística; a nosso ver, traz em si outro sentido, o de que no Brasil as organizações não se preocupavam em prestar contas de seus atos à sociedade, e mesmo hoje muitas transformam isso em um instrumento de marketing em busca de aceitação social. Em consonância com essa premissa, Campos (1990, p. 1), autora do emblemático artigo intitulado “Accountability. Quando poderemos traduzi-la para o português?”, diz que: “[…] Ao longo dos anos foi entendido que faltava aos brasileiros não precisamente a palavra, ausente tanto na linguagem comum como nos dicionários. Na verdade, o que nos falta é o próprio conceito, razão pela qual não dispomos da palavra em nosso vocabulário”.
A autora nos fornece a noção de que a accountability envolve três dimensões – informação, justificação e punição –, podendo ou não essas estar juntas para que existam os atos de accountability. Sendo um sistema de informação e controle das ações de organizações, pode ser implantadas em políticas públicas, em questões administrativas, profissionais, financeiras, morais, legais e constitucionais em esferas públicas e privadas.
Cada um desses três campos da accountability apresenta diferentes mecanismos e objetivos específicos para o controle, a vigilância e a busca de transparência das ações das organizações. Apesar da recente presença do conceito da accountability no Brasil, ela representa importante mudança de paradigmas na relação comunicativa entre as organizações e a sociedade.
[1] Governança corporativa – Disponível em:< http://www.ibgc.org.br/Secao.aspx?CodSecao=17 >. Acesso em: 28 maio 2009.