Redes sociais e universo online promovem “todos por um”
Prática de financiamento coletivo ajuda projetos de diferentes segmentos se tornarem possíveis com a ajuda da internet e com a força da divulgação das redes sociais
A voz marcante da cantora Nina Simone no jazz Ain’t Got No, I Got Life certamente foi escolhida a dedo para dar o tom da mensagem a ser passada: câncer não é escolha, bom humor sim, mote do blog “Além do Cabelo”, criado pela arquiteta Flavia Maoli. Diagnosticada com Linfoma de Hodgkin, em 2011 (ela encarou a doença duas vezes), Maoli decidiu, por meio das redes sociais, e principalmente seu blog, compartilhar com outros pacientes sua história e sua maneira de ver o mundo.
Essa iniciativa, que ajuda as pessoas a dividir um problema e enfrentá-lo sob uma nova perspectiva, talvez não viesse à tona não fosse uma prática, de certa forma antiga, mas que está ganhando cada vez mais espaço no Brasil: o croundfunding (financiamento coletivo).
Utilizada para custear desde pequenos projetos (inclusive jornalísticos!) a shows de grandes proporções, o boom dessa modalidade de financiamento se deu em 2009, nos Estados Unidos, com o Kickstarter, até hoje um dos maiores sites do gênero. É uma alternativa para tirar do papel ações que, muitas vezes, ficam fora do mainstream por serem consideradas de pouco alcance comercial e, portanto, não atrativas à iniciativa privada.
A força das redes sociais e da internet
Seu princípio é bem simples: como na conhecida “vaquinha”, cada indivíduo desembolsa o quanto puder para bancar um projeto de sua escolha. É assim mesmo, na base do “junta junta”, que ele pode acontecer, desde que alcance o montante necessário.
Um ponto importante que essa nova maneira de “fazer acontecer” levanta diz respeito às múltiplas possibilidades que o meio digital oferece. Graças à internet e suas redes sociais, por exemplo, cada vez mais pessoas têm se tornado formadoras de opinião e editoras dos seus próprios conteúdos.
No caso “Além do Cabelo”, a iniciativa foi tão bem recebida que terminou entre as finalistas do Prêmio Brasil Criativo, do Ministério da Cultura em parceria com a 3M. O resultado foi divulgado no último dia 21. O blog não foi o único finalista. Entre os 22 contemplados, outros quatro foram custeados via Catarse, uma das maiores comunidades de financiamento coletivo do país: Pimp my Carroça, Afrovale – Padaria Artesanal, Escola de Rua e Modelo Estrutural Mola, todos de São Paulo (SP).
Lançado em 2011, o Catarse ultrapassou mais de R$ 10 milhões em doações no 2º semestre de 2013. No primeiro ano, cerca de 15 mil pessoas apoiaram pelo menos um projeto no Catarse com doações de, em média, R$ 105. Em 2014, o número de pessoas já ultrapassou os 40 mil, com uma quantia média de R$ 113 por doação.
O Catarse indica que, nos dias de hoje, e cada vez mais, as pessoas estão livres para escolher e participar do que quiser. Ta aí a Flávia Maoli e a Nina Simone que não me deixam mentir.
Ana Paula Oliveira
Jornalista da Press Comunicação