Capa da revista: o primeiro flerte
A capa de uma publicação é a responsável pelo primeiro contato com o leitor e, quando bem trabalhada, é capaz de atrair a sua atenção para a leitura do conteúdo
Preto, branco e uma frase de impacto: “não vai ter capa”. Foi com estes três elementos e um tanto de perspicácia que o jornal carioca Meia Hora, editado pelo Grupo Ejesa, venceu a categoria Primeira Página do principal prêmio do jornalismo brasileiro, o Prêmio Esso. Assinada por Humberto Tziolas, Joana Ribeiro, Giselle Sant’Anna, Eduardo Pierre, André Hippertt e Sidinei Nunes, a melhor capa de 2014 foi publicada no dia 9 de julho, um dia após a Alemanha passar como um trator sobre o Brasil, no fatídico episódio dos 7 a 1 na Copa do Mundo.
Entre as reflexões possíveis, o caso serve para comprovar a importância da capa para uma publicação. Certamente, não foram poucas as pessoas que leram o Meia Hora naquele dia – o jornal, inclusive, é conhecido por suas capas irreverentes, algo que a sua linha editorial permite.
Mas por que a capa é tão importante? Pelo simples fato de que ela “precisa ser o resumo irresistível de cada edição, uma espécie de vitrine para o deleite e a sedução do leitor”, como acentua a jornalista Marília Scalzo, em seu livro Jornalismo de revista (São Paulo: Contexto, 2006). E precisa seduzir mesmo: para ter-se uma ideia, só de janeiro a setembro de 2014, circularam no Brasil mais de 3,3 milhões de revistas, segundo a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner). A soma é uma média por edição de 22 títulos em circulação, todos pagos – figuram entre eles semanais como Carta Capital, Veja, IstoÉ e Época.
Revista corporativa
Nas publicações coorporativas a regra é a mesma. Se as pessoas estão expostas a uma série de conteúdos fora da empresa, não se pode desperdiçar nenhuma chance de estimulá-las a ler a publicação institucional. É preciso “vender” esta publicação, não no sentido comercial, mas no de fazer com que o leitor “compre” a ideia de que ali existe informação de qualidade. E de fato encontrá-la, claro.
Nessa batalha, em que, mais que ganhar um prêmio, o alvo é ganhar a atenção do leitor a cada nova edição, os designers têm o desafio de produzir capas que transmitam a identidade (a linha editorial da publicação) e o conteúdo da publicação, detenham o leitor e o levem a pegar, abrir e ler o exemplar. Vale lembrar que além da imagem (ilustração ou fotografia) também compõem a capa cores, logotipo e símbolos gráficos (as chamadas das matérias, por exemplo).
Capas conceituais, como a do Meia Hora, são apenas uma das investidas. Até mesmo aromas e texturas são utilizados, como na edição de junho de 2013, da revista Vida Simples, publicação da editora Abril. Para surpreender seus leitores, a revista trouxe na capa uma arte que, ao ser esfregada, exalava cheiro de limão, indo ao encontro da matéria principal “Se a vida te der limões…”, metáfora para os problemas do dia a dia.
Porém, ainda é a velha e boa fotografia que costuma ser mais forte nesse jogo da sedução. Na maior parte dos casos, ilustrar a capa com o personagem central da matéria principal é a melhor forma de despertar o interesse, via identificação e sensação de pertencimento.
Por Ana Paula Oliveira
Jornalista da Press Comunicação